segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Casamento dos Pequenos Burgueses

Ele faz o noivo correto,
e ela faz que quase desmaia
Vão viver sob o mesmo teto até que a casa caia,
até que a casa caia
Ele é o empregado discreto,
ela engoma o seu colarinho
Vão viver sob o mesmo teto até explodir o ninho,
até explodir o ninho
Ele faz o macho irrequieto,
e ela faz crianças de monte
Vão viver sob o mesmo teto até secar a fonte,
até secar a fonte
Ele é o funcionário completo,
e ela aprende a fazer suspiros
Vão viver sob o mesmo teto até trocarem tiros,
até trocarem tiros
Ele tem um caso secreto,
ela diz que não sai dos trilhos
Vão viver sob o mesmo teto até casarem os filhos,
até casarem os filhos
Ele fala em cianureto,
e ela sonha com formicida
Vão viver sob o mesmo teto até que alguém decida,
até que alguém decida
Ele tem um velho projeto,
ela tem um monte de estrias
Vão viver sob o mesmo teto até o fim dos dias,
até o fim dos dias
Ele às vezes cede um afeto,
ela só se despe no escuro
Vão viver sob o mesmo teto até um breve futuro,
até um breve futuro
Ela esquenta a papa do neto,
e ele quase que fez fortuna
Vão viver sob o mesmo teto até que a morte os una,
até que a morte os una...

(Chico Buarque)

Nenhum comentário: